quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fim de dezembro


O sol depois das seis, brilha de silêncio a cidade que ficou

Em dias como esse já houve tanta luz

Já houve o som do novo, gosto bom do que passou

É tarde, ainda não é meia noite

O sol ainda brilha e o vento cheira a estrelas ...

Se há escuridão, mudos telefonemas

Se há lembranças, se já houveram dias de verão

Talvez eu já não saiba mais

É o tempo que faz questão de me fazer passar

Vem minha querida, vamos fingir que o tempo não nos levou

Que ainda a vida inteira se revelou

Como naqueles dias

Em que depois do anoitecer o sol brilhou.





domingo, 12 de dezembro de 2010

O próximo passo?



Sai em fuga desesperada de ti

encontrei mil espelhos

onde se olham os que partem

e partidos os espelhos me mostraram destruidos mil destinos

encontrei cidades vazias

e quanto mais caminhava mais a noite em mim se escondia

Então derrepente tudo aquilo

Que era teu e meu ao mesmo tempo

Pulsava em mim no desespero de perder-se

Como a mão que se solta de outra antes do adeus

Arranhava a minha garganta a cruél certeza de nunca mais...

então no mesmo átimo de segundo

antes que eu te deixasse

teria sido eu, que num sopro sufocado de voz gritei:

"Não me deixe"?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Santa Irene


Não quero mais o corpo crivado

Nesse rio que leva, leva seus sonhos insanos

Te salvo antes que me perca

Desisto do gosto da morte tua

Em meus braços, te carrego para superfícies seguras

São Sebastião, guerreiro ferido, morto e vivo

Tuas flechas são minhas, meu veneno é teu

Mas te salvo, antes que tenha que te carregar para sempre

Nos dias sombrios onde eu for só a tua escuridão.

São Sebastião Bufão


E se eu tivesse atravessado aquela porta

Será que eu estaria assim?

Bufão, um São Sebastião assim atrapalhado

Que nada mais eu sou além de mil pedaços

De um lado ladrilha, brilha a lágrima cintila

Do outro maqueia o sorriso, cansado, arrependido

De ser Sebastião, um santo dolorido

De ser esse Bufão, na cor da corda bamba

Do riso escarnecido do publico pagante

Retira a flor e o fel de um lencinho brilhate

E sua apoteose até parece samba

Recolhe a sua dor passando seu chapéu

Lá vai Sebastião, palhaço arrependido

De ter se tornado mambembe vagabundo, desvalido
a buscar felicidade em brilhos de estrelas tontas

Que cantam em sua glória um dia ter existido



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sensatez


Não vou me refugiar em você

Seja tua face uma ilusão, ou qualquer realidade distante

Ou seja uma cura temporária para qualquer vaidade ferida, ou mais...

Seja doce ou acre, não experimentarei tua presença


Não quero alcool, ópio, anestesias, que facilmente me darias somente com palavras

Poderia simplesmente declarar-me derrotada

Não vou negar a minha força, mesmo que agora não a encontre

Sou um cemitério, sou ventre fértil habilmente inutilizado


Não vou me refugiar em você

não vou te buscar quando mais nada eu tiver

não vou lamentar a guerra que secou meu solo

Vou negar meu próprio nome, até que me abençoe a mim mesma completa



Só erguerei meus olhos para fitar os teus

Quando em mim tudo for abundância

Entãoserá você quem virá me buscar, para completar o que já está completo

E ainda neste momento, não vou me refugiar em você. Serei minha então.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sem palavras


Não sei tirar de mim qualquer palavra que me resgate deste nevoeiro de silêncio...

minha paz e minha guerra tem o mesmo nome

vivo pela insígnia desconhecida que carrego no peito

Minhas mãos de vida e morte desconhecem meus mistérios...




segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nunca




Em certos casos, a ordem dos fatores altera o produto: Dizem que nunca é tarde demais. Engano. Tarde demais é nunca.

A festa


Luzes, sorrisos, então isso é a "felicidade"?
Minha boca adormecida em palavras presas em labirintos
Passam zunindo as cantoras em seus balanços, leves, vazias...
todas iguais, diferentes de mim, que não sei sorrir
Antes de tudo no agitar das taças, eu não havia me dado conta
que daqui onde estou não posso ver as estrelas
daqui não posso ver a mim mesma, não posso ver as cidades distantes
Será que posso respirar?

Fugir talvez, eu pensaria, para longe de todas as cores cintilantes, do absinto...
Poderia simplesmente sair correndo com meu vestido enfeitado
Poderia borrar a maquiagem e rugir como um leão, desritmando a harmonia barulhenta
Mas eu só estou aqui, e todos estão vazios e todos estão ao meu redor

Se eu me chamasse José, poderia perguntar " e agora?"
poderia saber que a festa acabou, poderia ser insana e anônima
poderia ser um grão de areia dentro de um corpo do mar, eterna até a chegada do corsário
e lá esqueceria de tudo num beijo congelado, a festa me é distante


Se eu encontrasse, no brilho desses olhos cintilantes, na multidão que dorme
Uma rota de fuga que me fizesse voltar
Exatamente ao ponto em que perdi as estrelas
Exatemente ao traço mal guiado do destino cigano

longe da festa sem sentido, sem doce, sem estrela e sem mar...
Toca o sino, no embalo desesperado, alguns correm com os pés descalços
Espero por alguém que não está na multidão
Que me convide a fugir, de volta para o meu lugar perdido...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pétala, pó e vento


Perdida manhã sem passado

Sou nada mais, conceitos, verbos, sou códigos

Nem o silêncio, nem o nada, na arena um ósculo cego

pois o corpo não é habitado por paz ou delírio

A alma labirinto. Não me encontro: sou-me em deserto

Nem cruel, pois sem gosto amargo, inefável, pois sem sangue, pulso

Nem dia ou noite, pois só o que é vivo contradiz



Palavra, nome daquele que morreu, leva o que apago

Palavra, digo que sou, mas não estou aqui, verso-retroverso

Palavra, etério, emerito, perfeito, verbo


Nem o profundo disfarce por trás da máscara

Nem a verdade da cara velha, pálida mácula

Nem anjo ou demônio: só.

Rumo sem estrada, estúpida razão


No escuro do mundo, clarão da estrela de ontem: Tempo

Algo que é concreto e sente o absurdo das coisas: Pétala

Esse que não tem nome, é luz pois vive múltiplo e dentro: Tempestade

Pulsa, palavras mudas, empilhados muros de medo e pó: Silêncio


Esse que não tem nome, derrota-me ainda que forte

pulsa-me mistérios e rios, corpo que é e que sou



No escuro clarão do mundo, estrela de ontem: Tempo

Vive o que é vazio e me vive dentro: Pétala

Pulsa o que é belo, sonhado, me tece em teia de véu e silêncio: Tempestade


Noite, nasce-me tranquila de ti, sem ser sonhada, envolta em pedras e muros de silêncio e pó:Morte.








terça-feira, 5 de outubro de 2010

O tribunal de Osíris


Quando cheguei lá tudo era diferente do que eu pensava

Olhei para as minhas mãos e eram as mesmas, só que mais pálidas

Tudo era claro, limpo, branco e nú, assim como eu estava

Eu não sentia frio, nem medo

Não havia ouro, rubís, lápis-lazuli...tudo era leveza, sem grilhões

Apareceram 42 juizes, que eram como eu, puros

pareciam feitos do fino orvalho de um oásis de luz

Os 42 me mostraram cada um dos meus erros

nenhum deles perturbou minha paz, mas cada dor foi revivida

Depois me mostraram as minhas glórias

Revisaram meus desejos, minhas injustiças, meus escritos incompreendidos

depois de ter provado do bom e de mal que havia em mim

Arrancaram-me o coração

Eu não senti dor

Prepararam uma balança, leve, dourada, tênue de inexistência

Pousaram ele com delicadeza, ainda batendo sobre um dos pratos da balança

No outro, uma pluma, feita de nada e de mim mesma

Ambas se equilibraram, eu respirei profundamente e disse: sim...

Então um silêncio ainda mais profundo se instalou desde tudo o que existia

Então me fizeram as duas ultimas questões para o fim do julgamento:

Você foi feliz?

Tudo continuava branco, leve, silencioso...

Minha boca se abria ainda sem saber qual seria a minha resposta...

Você fez feliz a alguém?...

Finalizando essa resposta, me seria dada a sentença...



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Amor


Segue-me ainda mais um pouco, que eu ainda não sei te dizer adeus

Deixa nossas mãos ainda entrelaçadas, nós na corda bamba

na contra-mão desses desertos todos

Há dias que somos inimigos, há dias que somos irmãos

Amantes é o que alguém diria, enamorados de si refletido em olhos do outro

me canso de te ouvir em silêncio

Sou tão antiga em achar que amor é essa areia que o vento leva das minhas mãos

somos rios distantes que se chocam

Não somos o par perfeito, erramos humanos pelos nossos labirintos

Antes de tudo, você é o que me marca o passo

mostra que ainda sou fera entre as feras, a mais venenosa
por odiar tudo que de mim te afasta

Deixa-me ainda seguir-te
Sei que também não queres que eu vá embora

Talvez o tempo tudo depurando nos torne menos amargos

Eu pousarei sobre teu ombro depois da longa tempestade

brisa-borboleta, iniciando a próxima jornada...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Preces


Existem mãos silenciosas que se juntam no escuro

canções de exílio de pátrias desconhecidas

Caminhos interrompidos, exitante alguém diante do próximo passo

Eu vejo os olhos que choram pelos cavalos descontrolados


As rédeas perdidas, de corações que deliram por caminhos irracíveis

As preces mais belas são as mais doentias

E ainda há mãos que não oferecem ajuda, por que estão contando as próprias feridas

Eu choro pela minha prece, contemplo fora do espelho a minha imagem desfeita


Subindo a escada ao contrário, vejo mil escadas que não levam a qualquer lugar

Arlequins transfigurados me fazendo mil perguntas sobre livros que nunca li

Meu teatro de ilusões e sombras não me deixa ver o que é real

Minha prece já foi ouvida? não sei...


Caminho no inferno de Dante e lamento agora não te-lo lido

Não existe fogo que arde e sim gelo e distância

Logo alí vejo Eurídice, e a invejo pelo seu Orfeu, mais um gole de veneno...

Espero pelo meu resgate, que seja ouvida a minha prece
que eu seja salva antes da tempestade.



terça-feira, 21 de setembro de 2010

Singularidade


Arrasto meu manto na dramaturgia dos erros, e dos acertos

Meu manto sagrado forjado em sucata, em dor e em glórias santas

Tem horas que bebo tanto do mundo que só a arte mais pura me conforta

Só o caos mais sincero grita dentro de mim num traço, num verbo maldito

Acalanto de uma dor gelada que não existe

Eu canto pro mundo dos mortos, dos vivos, das muralhas de Orfeu

bruxa, fada, tempestade, nada... não sou nada...

Queria entender que sou a pura comunicação do pulsar das estrelas

Que habito o silêncio e que sou dragão, homem, tormento e delicadeza

Queria como o monge que entrega ao fogo e não se queima

Entender que simplesmente não sou...

Que isso a que chamo de singularidade, identidade, mémória ou simplesmente Eu

Um dia vai se esvair no vento de uma tempestade

Virão outros depois de mim, como antes já vieram tantos

Como o olhar anônimo na janela distante, mudo, durante a viagem...


domingo, 12 de setembro de 2010

O soldado


Eu não me lembro bem

era ainda muito jovem

foram anos de preparação

Eles diziam que era nobre

Eles diziam que havia um dever

nem eu, nem eles conheciam o meu sangue

Eles me tornaram forte

E mataram antes de tudo a minha sensibilidade

Eu pisava entre serpentes e brasas

Eu não sabia mais reconhecer o que era dor

Eles me falavam de um dia D e uma hora H

Era para isso que serviam todos aqueles anos

Era para isso que eu me preparava

Eles diziam muita coisa

Eu não sabia o que eu estava fazendo ali

na verdade não...

O "grande momento" chegou de surpresa

enfim, realizaria o fim para o qual fui preparado

meus pés tocaram o solo arenoso

e o desconhecido me atordoava e estrondos de todos os lados

Eu não tive tempo para dar o segundo passo

A luz se apagou num misterioso estampido

Fui engolido pelo mar, e até agora, tento saber que eu teria sido...

domingo, 5 de setembro de 2010

Pulsatila


Quem sou eu?

doce, incandecente, tão sutil brisa

passarei por aqui invisível

o coração num unguento de flores

força tenho mas minha sutileza é quem devora

Calma, conta o relógio agora um silêncio necessário

Tudo o que tiver que ser, será amanhã

Hoje não...

Hoje só posso estar anestesiada

Fecho os meus olhos para ter só aquilo que vejo

e o presente me acalma

Cada respiração leva embora rios de dor

rios que não quero mais, estou exausta dos meus holocaustos

Tenho pedido tanto por silêncio

Rezei mais de mil orações indizíveis para reencontrar minha alma

Como quero esse copo de água com açucar

Como quero estar apenas eu comigo mesma

Como quero tanto esse sono reparador

Pulsatila, me quero leve como você brincando ao vento

Na liberdade de nada mais ter que ser

além de tudo e simples nada

sem qualquer futuro ou passado

Apenas mais uma flor

da mais leve brisa gerada



terça-feira, 31 de agosto de 2010

Toda
beleza
é
uma
despedida...









Amém








Espaço vazio
Que sente ausente
Cada conta que conta... conta... conta...
Cada gota que cai
Cada gesto em silêncio
é uma oração
para reter tempo.



sábado, 28 de agosto de 2010

Hortelã


Das folhas na água quente

Sobe lento vapor

Gelado quando se sente vindo de muito perto

faz respirar a mais inocente euforia-calma


Cheiro de hortelã, vivo ou artificial

Os olhos dela brilham só de distância

xicara de chá perfuma de fumaça o beiral da janela

Lá fora nas montanhas distantes passam os carros

pontos de luz se despedindo anônimos


Missão cumprida, na calma dos puros

Corações sólidos, completos e únicos

Chuva cinza escuro em qualquer tarde da infância

Se deixa entrever um pedaço de céu azul: algodão doce


Toque da mão que conforta

O pior já passado, sono tranquilo no ombro amado

Cheiro de hortelã, anis estrelado, batendo asas no vazio do estômago

Borboleta azul se reflete na infima gotad'água, bela, mesmo assim se entristece...














quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Anis estrelado


Erva doce, céu azul, banho fresco

cada tijolo, lado a lado, reconstruindo

cada momento de sim ou não jogado fora

Era uma vez, ainda...


Quero as flores mais brancas

Semente a semente, já sem pressa florindo

Dia novo, sol claro, sem memória

Sem amor, sem esperas, nova...


Menina, olhos brilhantes, ainda não viu

primeira beleza do céu de fogo

por do sol, mancha aquarela, lágrimas de tinta rosa

Sem pecados, sem perdão, folha branca desenha distraida


Sorvete de livro desejado, joaninha que voa

Esperanças, caixinha de música, meu perfume predileto

de gota em gota abelhas fazem muito mel
Colo de mãe depois de um tombo, desejo atendido, noticia boa


Assopra o dente de Leão: Tua felicidade já chegou...


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mar


Me leve para longe o mar

já que me trancou eterna em silêncios

Eu nunca vou chegar


Me leve para longe o mar

O farol solitário é distante demais

O pulsar das estrelas fecha meus olhos

O brilho e o gosto do sal entorpecem


Me leve para longe o mar

Grãos de areia entre os meus dedos que fogem...

A areia fica, sou eu que me desfaço na tempestade


Estou acordado ou estou sonhando?

Para onde quer que eu fuja, estará lá aquilo de que fujo

De onde quer que eu venha, a busca é sempre a mesma

Onde quer que eu esteja, estou a deriva



Me leve para longe o mar

mesmo que me perca em vários labirintos em simultaneidade

Não ouça o meu estribilho sufocado, no oco desse espaço cheio e vazio

Me leve para onde inexista o nome de todas as coisas



Possessão


Tem horas do dia em que você assopra o silêncio no meu ouvido

Tudo para.

Eu fico a ouvir suas mensagens

veladas, imaginárias, tão surreais quanto o tal amor que nunca existiu

Fico pensando em como seria se tivessemos sido

se fosse cedo para decidir, se fosse tarde para desistir

Se fosse ainda aquele dia

Se o vento na asa da borboleta tivesse mudado sua rota em milímetros invisíveis

Se não fosse só a sua vaidade tudo o que se mentia

Tem horas do dia em que tudo para.

e é como se ainda fosse possível

Calar o que o pensamento não cala

viver o que se desfez no impossível...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Falsos poetas

Não leia os falsos poetas
Leia Pessoa
Queime as mentiras dos falsos poetas
Derrube suas bibliotecas
Falsos poetas não sabem rimar
pensam ter o direito de dizer a todos
pensar ter o direito revelar o que ele mesmo escondeu
Longe do trono dos semi deuses
Ele teceu seu mar
Ele despiu o céu
E encontrou o desasossego
Não leia os falsos poetas
Leia Fernando Pessoa...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Declaração de amor ao Homem-flor


Um dia eu conheci um homem-flor

Ele era o dono do mundo, só que não contava para ninguém

Ele era o único homem sem ego hipertrofiado, uma singularidade...
Dentre tantos super-heróis, só o Homem-flor foi quem me salvou...

Eu reconhecia o Homem-flor e ele mim também

Mas era amor calado, daqueles que não se chama de amor, e sim de admiração e respeito

O meu amor com o homem flor era igual aquele que a gente vive quando olha no espelho

Um dia, o homem-flor tomou uma tesoura em suas mãos

e recortou numa folha de papel o infinito

só para me explicar como eu poderia fazer um infinito, e o que era o infinito...

Homem-flor, guardo até hoje o infinito que você me deu

O homem-flor, é o meu único amor verdadeiro

Eternamente não declarado
Homem-flor, você me ensinou a ser quem sou

Você me ensinou a ser como você.

domingo, 15 de agosto de 2010

Até quando...

Eu quero paz
não! eu quero voltar para o teu abraço
Até quando vou vender a minha paz
Até quando vou pedir tão pouco?
Até quando você será a minha paz?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A fera




Meu coração é a lágrima de uma estrela distante


tem olhos tristes que parecem brilhar ao longe


Existem palavras que pertencem ao nunca


A febre é o estado em que as estrelas mais cintilam e os sentidos mais enganam


Então se confundem com as luzes do mundo


As vezes ando só, carrego pincéis de pálido horizonte azul


Carrego o mar arrebentando em pedras dentro do peito, nunca cessa


O sal entre a ponta do dedo e o paladar


Detesto a minha falta de silêncio quando estou mudo


No fundo, por mais cruél que eu mesmo me descreva


Sou frágil, doce, triste e preciso de abrigo...








domingo, 8 de agosto de 2010

A rosa no espelho


Deus, da forma que existires, e com o nome que quiseres ser agora chamado. Peço que, antes que seja eu teu, sobretudo, seja eu mesmo o dono de mim.


Que eu saiba ouvir a minha própria voz, mesmo quando sem respostas eu busque qualquer uma das mil vozes que me cercam ou até mesmo a tua, que eu saiba ouvir a minha voz, e que eu saiba usá-la para pedir socorro, mas apenas quando eu mesmo não puder mais lutar. Deus, me dê o orgulho necessário, para saber da minha força e não te pedir nada.


Que eu não me perdoe, não me ofereça treguas, que eu me diga não toda a vez que me ordenar a ética, e essa sim, serei sempre servil.


Deus, recebe o meu amor por ti como o de um outro Deus, que ainda está nascendo. Reconheça que ainda assim somos espelho um do outro.


Deus, me ensina o que fazes para ter a força de não quebrar a fina camada de vidro que recobre o livre arbitrio de outros Deuses tão pequenos como eu, tão sementes... eu as vezes os odeio, como faço quando me olho no espelho... Por favor Deus, me ensine que odiar outro como eu e odiar a mim mesmo, portanto, o faço a ti.

Deus, eu te amo!


Me ensina que eu tenho que caminhar sem olhar para trás, e que mesmo que eu precise, saberei viver sem que alguma mão esteja dada a minha ao longo do caminho.Me ensina a jogar fora tudo aquilo que é necessário para que meu coração esteja batendo.Deus, não me obedeça!


Deus, cura essa doença que me torna tão frágil, que me deixa como como um cão raivoso, que leva toda a minha sensatez, que me faz colher poesias cruéis e chamados impróprios

Deus, me cura logo dessa humanidade, para que eu possa ser como tu:

Limpo. Imutável. Desumano.

Deus, eu pequei.




terça-feira, 3 de agosto de 2010

Limpeza


Ainda a mesma alma

Habita agora esse corpo, não sei totalmente por que

Isenta, na verdade. Antiga, por demais adulta

Quem sou eu depois de despir toda a carne da emoção inútil?

Quem sou eu, além do ruido em que tenho me escondido?

Quem sou eu depois de limpar todo o traço em falso?

Toda a poeira do tempo lavada, toda a dívida paga e perdoada
Sem odor
Sem sabores
Sem desculpas
Sem mentiras
Mergulhada na impermantentibilidade

E agora?

Agora é sério.

Quem está pronto para se lembrar de tudo e assim esquecer?

Quem está pronto para ver além do que está diante dos olhos?

Quem está pronto para ver e sentir com todos os sentidos simultaneamente?

Como seria essa imagem?

Quem tem o controle absoluto para passar por aquela barreira de gritos invisíveis sem sentir medo?

Eu não.

Estou diante da porta

Só existimos agora, eu, toda essa imensidão branca e limpa e essa porta

Estou aqui em silêncio

Só eu posso abrir a porta

Só eu posso atravessá-la

Só eu verei o que vai além dela

E depois disso, tudo muda

Eu tenho medo. O tempo passa.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Tristão e Isolda


Ele a sonhava

Ela não existia

Ele a buscou

Mas ela não existia

Ele a encontrou

Mas quando olhou no fundo dos seus olhos, ele viu...

Ela não existia, apenas fugia como miragem na areia

Então ele a buscou em tantas outras que nelas se perdeu...

Ele foi para o mar, para terras distantes

Ele se cansou, então ele esperou, ele envelheceu...

Isolda não chegou

Nenhuma nau de velas alvas ou negras ao mar distante se anunciou ...

Se quer alguma embarcação...

Isolda, não teve culpa

Ele a inventou...

Ela, não existiu...




domingo, 25 de julho de 2010

Sonhe comigo

.







Só isso...







.

Homenagem


Seja postulada aqui honrosa homenagem, a todos aqueles, que por engano foram enviados a este planeta absurdo!
Sim!
Se você é um daqueles que desde pequeno é chamado de estranho, ou esquisito
Se dizem que você tem a tal da sindrome do estrangeiro... ( rsrsr)
Se você duvida... de tudo!
Se você não concorda com os valores superficiais dos seres humanos, esses malucos humanos...
Todos estavam falando da vida dos outros ou da mais atual novidade da moda enquanto você, o et, olhava o por do sol, a lua, ou a comunicação entre as formigas? ãn? o que dizer da comunicação entre as formigas?!
Vai dizer que você se importa em atravessar a rua de pijamas?
Se os maiores bens que você conseguiu adquirir são puro pensamento...
puro sentimento...
Ou pura bobagem...

CUIDADO, VOCÊ DEVE SER UM ET!

Procure imediatamente o disco voador do qual você caiu!

Tudo está nas entrelinhas.

palavras
mãos
silêncios
olhos
mentiras/verdades
O que eu quero
O que tem força
caminhos
medos
passado
pedidos
súplicas veladas





olhe...


olhe novamente...



tudo está nas entrelinhas
então apenas... olhe





sábado, 24 de julho de 2010

Pelo amor de Deus


Saia da epiderme

Aprofunde o corte

De que adianta estar nú mas atrás do muro?

Vale a pena se não for fratura exposta?

De que adianta eu ver ainda a tua pele e não enxergar seus nervos?

Mas que bravata é essa sem consequências?

Pode existir guerra sem sangue, mas não sem verdade...

Pelo amor de Deus! livre-se dessa máscara, mostre o que está por dentro

Beije violentamente a boca do santo que ainda está no altar...

Destrua o altar!

Suje-se de si mesmo

Saia da epiderme e toque seu coração vivo com a ponta dos dedos

Mostre a você mesmo que existe um coração, depois faça o mesmo com Deus, se puder...

Busque a face que você mais temia

Busque seu maior nojo, alimente-se dele

Busque a si mesmo e pare de fugir

Definitivamente, seja mais do que essa migalha de si...

rasgue sua própria carne se tiver coragem

Assuma sua fraqueza

Assuma seu delírio

Encontre o pulso da sua alma

Encontre um caminho de volta

Apague o caminho de volta

Deseje o próximo golpe...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

uroboros


E a serpente mordeu sua própria calda...

era calda de chocolate!

Quando o discípulo está pronto...


Quando o discípulo está pronto, ele agradeçe por cada vez que esteve no chão

Alegra-se por ter começado a batalha como o mais fraco

Ele agradece por cada erro que fez com que ele se tornasse quem é

Ele sabe calar...

Ele entende que cada noite que passou só, na escuridão, foi necessária

Entende que se o humilharam foi para que entendesse a importância da sua dignidade

E se o testaram, provaram que seus valores eram verdadeiros

Quando o discípulo está pronto, ele abençoa seus inimigos sem hipocrisia

Quando o discípulo está pronto ele tem inimigos?

Ele sente o cansaço quase o levando por terra

Ele entende que depende de todos, que todos dependem dele...

Descobre que ninguém precisa dele, e que ele não precisa de ninguém

Ele está só, e desfruta em paz da sua própria solidão

Quando o discípulo está pronto, ele já sabe o gosto do seu próprio sangue e de outros

já sabe a força mortal da sua espada, mas não a usa

já conhece a cor da sua própria morte, e isso não o assusta...

Quando o discípulo está pronto, ele ama, mas não possui
já é imune a seu próprio veneno

já suporta a mais cruél das provas: a não-ação

Ele já sabe esperar, e já sabe dizer não

Quando o discípulo está pronto, ele silencia seu próprio inferno

Estanca sua própria dor

cura sua própria ferida

ri, da sua própria loucura

Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A rua que não é minha


Quando você não está

cresce um vazio que já existia e eu não sabia que era teu

"Meu eu" ( urgh!!!) melodramático e cafona ajeita de cada lado a ponta fina dos bigodes pretos

em mim o canastrão respira fundo e diz um "ai!"


Quando você não vem

Eu te espero como se isso fosse algo da minha competência

visto as minhas chinelas de velha mãe

batendo o pé a meia noite em frente ao relógio


E se não aparece

Chego a fingir que algo escurece

as minhas tintas borram de cinza todo o cenário que colori te esperando

Arrumo um circo, nariz vemelho no dia em branco, assim sem graça


E se contudo ainda não chegas

Me resta agora, seguir afora, naquela rua que não é minha

Mas que eu ladrilhava com pedrinhas coloridas

só para ver você passar...



terça-feira, 20 de julho de 2010


Pequenino e ridículo

Filhote já não tão novinho

Não bonito, esperto além da conta

Cãozinho sem dono, na chuva

sem carinho, sem comida, sem cpf...

Cãozinho sem dono e sem pedigree

Late, late, como se alguém pudesse te escutar...

domingo, 18 de julho de 2010

Fragilidade


A todas as pérolas que guardei nos fios das minhas pálidas horas:
Ela continua ali, com seu olhar nem triste nem feliz, apenas absorvendo o calor do sol, o ultimo sol, ou o primeiro...
Sua beleza ainda é adornada com preciosas especiarias dos livros raros
E ela , ainda é uma criança como ainda será quando ela já estiver quase no fim de muitos e muitos anos
Para ela o tempo passa diferente... enquanto sente o bater de asas de suas borboletas...
Para ela o tempo não passa..
As vezes se encanta com sonhos coloridos
Morre de pesadelos, ninguém pode protegê-la, ela escolheu ser a mais forte...

Adormecer

Cala como dia silencioso
Dentro de mim grilhoes de ferro se arrastam na poeira
A paz dos derrotados na guerra
A incomoda ausencia da dor
Quando somente o silêncio impera
Uma fogueira aquece as imagens turvas à luz do sol...
creptando...
Olho para o mundo suspenso...
dentro de mim, palavras mortas
Canto um estribilho rouco e cansado
Somente a poeira nos meus olhos granulados a esperança de ver o que vê o cego
Carrego santa mortalha dos arrependidos
eu espero pela escuridão, e que ela me leve...
Como nesta terra seca a presença de um rio oculto
Que subrepticiamente sugue-me o ultimo sangue das veias
Se ainda alguma vida pudesse existir em minha boca seca
Se ainda alguma flor, nesta hora silenciosa, se mostrasse, mesmo que em espéctro
Qualquer mentira que ainda servisse de ópio à minha mente
Eu não desejaria me dispor de ser
Eu não sucumbiria
Ao doce, e distante chamado desta irresistível inconsciencia eterna...

Manto das estrelas


Nunca me senti criança
passa as mãos pelos meus cabelos
seca em bolhas de sabão minhas lágrimas quentes
tranquila, me faz ser quem sou
mostra-me a flor do dia
como se soubesse onde minha noite mora
como se ja não faltasse tão pouco tempo para nunca mais
tece-me em manto de luzes
beija me as palavras nas palpebras
faz-me toda um relicário
mãos de menina em fitas brancas
bocas de fada, sibilantes, lancinantes, lírios
meus olhos em faz de conta
contam noites de perdida infância
quando quiseres dizer que nunca existi
conta ao contrario as estrelas
como quando brincavamos
e você era eu no manto delas.

Veneno

Cuspo ainda o veneno da tua boca
rendas morbidas em caixas empoeiradas
Daquela noite so restaram as cinzas
que ja estão ali, pra serem levadas ao vento
já não era eu quem cortava os meus cabelos
quero cortar meus cabelos pra não ter mais a imagem que você venerava
Quero transfigurar-me para não ser reconhecida
Tesouras, grampos, fitas, sangue pisado
Dentro do telefone , o alcool, o vidro do perfume estilhaçado...
como o brilho das luzes das cidades distantes
lágrimas na madrugada
A febre do meu corpo, brilho sem identidade
não quero mais ser a mesma que você amava.

Quando

Quando é que você vai aprender a desaprender o que a prendeu e aprender o que é desaprendido quando se aprende a viver?

Jacó e o Anjo

Eu continuo caminhando entre as sombras...
Meu tempo perdido em ser inexistente
Tudo que sou tão levemente se esvai como pó
Eu quero um ponto de retorno
Quero a luta entre Jacó e seu anjo preferido
Caminho a espera de um sinal
Que me faça entender que regressar é preciso
A noite dos esquecidos me leva como a correnteza do rio...
Sou cinzas de um expectativa morta...

Ludens...

Ludens...
um coração desconhecido...
forma sem alma
tudo tudo tudo
nada...

Falso poeta

Ludens... seu patriota sem patria
seu fanático de ninguem...
se a criança em ti continua suas travessuras, é porque a luz ainda tarda a te abandonar, e se és tão sereno, é porque aprendeu que a serenidade é tristeza que se cala, e alegria nova que é recebida sem pedir passagem...
Ludens...
seu falso poeta...

Heterônimo digital




Se sou tantos, porque não me encontro?
talvez insignificante, por que tão universal e tão particular?
Tão único, Tão doce, tão relicário de estrelas incontadas...
Que máscara é essa na tua franqueza Ludens?
Por que andar ao lado da verdade mesmo quando ela é o príncípio do Dragão?
Por que quer encontrar a si mesmo se ja seu rosto no espelho não é reconhecível nem pelo outro?Por que queres ser tantos seres aprisionados neste breve grito inaudível?
entregas destinos impossíveis a bestas que não te sentem precioso...
e esperas inocentemente...
Um cego que ama aos cegos
Um louco que ama aos loucos
Um sábio entre os sabios
Ou o mais tolo entre os tolos...
Se andas pelas ruas não é a ti que veem...
ela está em ti...e ela é silenciosa e doce como tu...
nunca ninguém viu Takeu Ludens
Sombrios sonhos freudianos...
soldado da inexistência
partidario do nada...
luz dúbia, como ser e não ...
Destinos negados antes de se nascer
escuridão de silencios eternos...
Só ela sabe de ti...

São Jorge

As horas não passam...cada segundo é uma luze eu aqui, sozinho, diante desse dragão o relogio perpetua o silencioe eu aponto a lança para o dragão sem coragem fazê-lo morrer.
Já posso ouvir, já posso sentir o chão estremecendo.
Aquele dragão a urrar e se debater. A minha lança, não sem a mesma dor enterrada no coração da fera.
Sem gratidão ou rancor ( sinônimos), os olhos cegos e a alma cansada...verei a morte do dragão, não por prazer mas por necessidade...e eu ,aqui, cavaleiro solitário, matando o dragão que mora dentro de mim, seguirei meu caminho, agora sem o dragão que desde sempre me acompanhou...

Naufrago

Hoje Ludens é um pedido de ajuda...
É alguém perdido no mar em uma tempestade
ou a tal criança da hora absurda descrita por Fernando Pessoa
sem forças, uma cidade sitiada...
sangue de escuridão trancado no peito e na garganta arrancada...
As velas escuras de um navio distante
o céu se escurece
O mar engole fogo e raiva
ludens, hoje é um velho homemque viveu sua vida perdido em sua própria ilusão
Toda a liberdade é ilusão
o naufrago a deriva não escolhe para onde o mar o leva...

Takeu

Takeu Ludens:
um homem que nunca se recusa a aprender!
Mestre Ludens, discipulo Ludens, ludens a criação...
renasce de suas cinzas...
reconstroi-se
retoma o caminho
Ludens vai em busca da felicidade
e porque a quer ele a encontra
ludens...uma ilha
ludens... um oceano!
ludens... agora o mundo inteiro
o dono do caminho
o dono do caminhar
Ludens um homem
Ludens uma mulher
Ludens...
poeira estelar...

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HOMO LUDENS

Ludens, identidade, quem está escondido por além da minha máscara? que sou eu? o que busco no que cativo? Sou cativo de alguém ?e quem a mim pertence?
Takeu ludens, seria ele um ser que de tanta poesia que em sua vida teve quis derramá-la a seus entes desconhecidos espalhados pelo mundo?
Seria Takeu o ultimo grito de alguém que sabe que viver é sempre pouco? quando se percebe a vida já terminou... os sonhos ja se consumiram... as luzes já se apagaram...e só resta o sorriso nostálgico desse velho palhaço, que tudo viveu, que sorveu a vida, sabendo quão precioso seria cada segundo, cada olhar, cada ser que por ele passou...Dos retalhos de tudo... Ludens recolhe suas lembranças, guarda cada amigo em seu coração...
E quando a morte chegar, ele tranquilamente lhe dará a mão, olhará pela ultima vez a vida e dirá: EU NÃO TE DESPERDICEI!!!

flor

"meu mundo de poesias, há pouco tempo ainda emergido das águas escuras, minha alma cheia de novas luzes.Espero-te ao cair da noite, muda e feliz, como a muito tempo não enfeitava com uma flor os meus cabelos..."

O velho noturno e a menina

Sou o velho noturno silencioso em memórias perdidas
Sou a menina que se surpreende com alma que se esvai pelo fundo do espelho
Lá dentro de mim adormece um dragão de mil anos
Sonho que minha alma tem a leveza de uma flor quase viva
Como a força que se vai a cada minuto nos pedaçinhos da vida
O alivio do destino escrito apagado e refeito
Eu não esperava que nascesse esse novo dia
O velho que aceita a sua morte tão próxima quanto as lágrimas dos sonhos ao vento..
Caminha a menina, já longe de qualquer infancia
Abre as mãos e solta as flores que morreram longe da primavera
Lá fora a lua cheia, lá dentro a lua cheia
Ela acha que a lua não foi feita para ser tocada
Ele a ensina a caminhar sobre a lua cheia
A areia fina se espalha no vento...
tudo mais é silêncio...
tudo mais é poeira guardada numa caixa de memórias...

fui feliz

A que estranho medo esse com gosto de terra pisada
Pelas portas da velha casa, um passado envolto em poeira
Minhas novas luzes cintilantes, um dia serão uma lágrima que brilha na escuridão imensa
Sem dor de arrependimento, mas com saudade de tempo vivido
tão dificil de fazer voltar o tempo do vaso quebrado, o instante perdido
já vivo sereno e tranquilo, arrasto meus velhos chinélos dentro do silencio absurdo
meu dia nunca termina e minha noite se faz em luzes distantes e gritos mudos
Sobretudo agora minha alma é leve
Guardo na memória da minha carne o doce e o amargo do breve espaço desta vida
E lá se vai o barco sem navegante, vejo as luzes outeiras de uma cidade distante...
já não estou lá, mas estive, e fui feliz.

Morto

Estou morto e sem poesia
me embreaguei de mim mesmo
vivi até a ultima gota do meu sangue
preso em um tubo de ensaio assiti a tua vida toda
não tive dor, pois é viva a dor
apenas senti o vazio dos seres completos
e dos seres covardes que se perdem em migálhas
Como você que me mostrou como é ser o lado mais fraco
Amanhece essa madrugada escura
Eu já não mais estarei aqui

Ser errante é nunca ser o mesmo

Aos que pensam que morto estou, digo que não, vivo, mas agora distante, como sempre errante, pois é talento de quem vive, não saber ao certo onde se deve estar.
Agora tenho outros medos que antes não tinha, tenho alegrias que esses medos são...
Agora sou errante como sempre fui
mas ser errante é nunca ser o mesmo
Ser errante é saber que é do errar que surge a manhã nunca dantes vista
Da caminhada, a certeza do encontro
Já meus olhos não estão negros de tempestade
Meus olhos são filhos da chuva fina e serena da compreenção
Meus olhos são janelas de onde me vejo
As vezes incandecente
As Vezes luz que não tem fim
Se já vivi na escuridão entendo que não por minha culpa
Não por culpa de alguém
Mas as vezes o que parece escuridão é luz vindoura
E passaro da madrugada
Chuva de arco-íris

Deus

Continuo obscuramente a tua procura, mesmo que tenha eu te renegado e renunciado tantas vezes, tua imagem me persegue sutil como a lembrança de dias com sol. Deus, sei que me acompanhas emquanto finjo desconhecer-te...

Futuro

Sem infância, minha vida quase insuportaval
um fio de poesia ainda resta
não tenho frio
a dor me cala não mais serena
grito enquanto espero sem nascer o dia
olho para além do portão do passado
Não vejo mais o porto oculto em nevoeiro
Nem meu coração é mais refúgio
Meus olhos faiscam a pouca luz na esperança do futuro...

Para que ao menos eu saiba

Flores com sabor de rosas
Quantos brilhos infantesMeus olhos, distantes faiscam cidades antigas
Meus lábios beijam o eternamente em palpebras cerradas
Tão doce o cansaço que me sufoca sem lágrimas
Se me perguntas eu digo:Nada, é só a minha amargura
Tenho a ti que era o que eu precisava
Tenho a ti e és a unica luz de esperança em meus olhos
Tenho a ti e quanto mais gasto o que sou em ti, menos tempo resta
Quanto mais, quanto mais, quanto mais: nunca o suficiente...
Corro para teus braços para que ao menos lágrimas eu tenha
Para que ao menos eu saiba
Que a eternidade pode morar na quietude fugaz
De não desejar nada além e nada mais daquilo que és
Daquilo que sou
Quanto minha mão está atada a sua
E nenhuma das bocas profere qualquer palavra de adeus.

SENTIMENTOS E DESPEDIDAS...

SENTIMENTOS E DESPEDIDAS... ( Para minha vó)
Cada dia em que nasce e morre a cada vez mais pálida memória...
E já não quero mais, nada do que outrora bailava em luz e escurdão...
A minha vida tão doce, recomeça todos os dias...nela me vejo e sou na delicadeza
Se te deixo partir e a isso mesmo assim desejo é pela tua dor e pela que me causas...
porém nascente amor me faz desejar que a sua viagem seja em paz...
Que outras vidas seja para ti mais breves, e que desde o início sejas amada, para evitar que novamente seques seu coração nessas lágrimas...
Se desejo que vás é para que um dia, possas retornar, repleta em amor...
que ainda aqui não viste que existia...

Grão

Não sou certo nem errado
nem pequeno nem grande
sou apenas um pequeno grão
invisível a olho nú!

Meu anjo ficou louco

Meu anjo ficou louco
Me leva por avenidas e labirintos
Me faz florir em dia cinzas
Me faz renascer a cada dia depois da tempestade
Meu anjo louco
Apenas mensageiro do ente desconhecido
Que mora em minhas particulas atômicas
E dorme com meu cantar
Embalado nas histórias da minha juventude...

Manhã

Manhã que ainda somos
Na proximidade ainda tão estranhos
Na nossa calma ainda tanto silêncio
Quero te tanto, tanto e tanto mais
Mesmo que me faça em lagrimas por não entender-te
Mesmo que eu te faça vitima de sonhos pueris
Ainda sim te quero mais e sempre
Porque me deste a mão quando era eu o teu encantado sonho
E, vindo o desencantar do tempo que desbota a lancinante o novo amor
Ainda sinto quieto e constante o bater do seu forte coração ao meu colado
Quero te na imperfeição dos teus atos, quero-te quando não me ves inteira
Quando não me chamas de anjo e quando não és para mim refúgio, mas tormenta...
Ainda assim, escolho-te, pois quando me viste só e perdida entre amores mortos
Apenas me olhaste e me disseste sim.

Quando você não vinha

Tenho saudades de mim
Quando era manhã, era eu mais uma flor do dia
Quando a noite vinha, pintava de rosa a borda do dia
eu me pintava de lua e vestia poesia
Quando era manhã eu ainda podia tocar minha face de franboesa
Eu era pequenina, eu era estrela ainda, eu era distante sonho
Eu bailava entre primaveras que doces choravam, mas não morriam
Eu guardava pequenos lírios na barra do meu vestido
Para quando você viesse
Para quando eu não mais existisse
Tenho saudades de mim, de quando você não vinha

Não tenha medo de mim

Não tenha medo de mim
Quando vago sozinha entre noites escuras
Quando meu sangue seca nas veias como em desertos
E fico muda e perdida de cores
Não tenha medo de mim
Quando coloco a venda e a preço a sua vaidade
e cuspo na cara das horas
Quando rio da tua paçiencia e devoro suas intenções
Não tenha medo de mim
Quando de tanto tentar arranhar o céu da minha boca suja
Durmo como um anjo, pálida, cansada, irremediávelmente viva.

No mar

Morri, mas agora não pertenço a Deus
pertenço aos seus olhos gelados que contemplam o mar
sem saber que eu estou no mar

Maio

Maio
Eu poderia escrever poesias sem fim para os meu amores mortos
Eu poederia viver para sempre me despedindo dos meus sonhos mortos
Perdidos no tapete de estrelas diante dos meus olhos fechados
Minha vida é sangue que escorre, que seca, que some
Minha imagem palida se apaga sem dor
Estou tomado pela vertigem de um cansaço, cegueira
Mesmo estando o céu azul lá fora, tudo são cinzas no horizonte nevoento
Nem me alcança mais a saudade, nem me alcança mais qual quer nau com velas alvas
já tingi de negro toda e qualquer esperança, por vontade própria, meu ultimo capricho pueril
Ja cortei as amarras do meu barco e agora espero a correnteza
Espero o sol que arde a eternidade, mil anos se passarão, mil anos se passarão...
As vezes meu coração rebenta em prantos perdidos e silenciosos, a noite ouve e cala
As vezes eu sonho com raios de luzes impossíveis, e as vezes sonho morrer...
As vezes sinto o gosto doce e inocente da minha própria vida
ainda quentecaindo gota a gota em lagrimas passadas...

Clarice


Clarice, não eras minha
Mas assim mesmo que não fosses, isso me doia
Mas e se fosse, ainda sim, eu não o quereria
amei de ti a liberdade Clarice, seria covardia
Mas mesmo assim quando outro chega
E quer de mim roubar o que não me pertencia
Me mordo de ciúmes, de quem não devia...

Clarice, amei-te como a um dia de sol
amei-te como o sol de um único dia
onde eu era flor e assim simples floria
Clarice, lembras que em sonho meu, tu me reconhecias?
Eu era desajeitado e não sabia voar
Eu era calado a me preencher de silêncios
Eu era uma semente de tudo o que nem nascia
Clarice, eu era para sempre e você, um dia...

Noite linda

Noite linda
Noite que não volta
lua tão clara
Brancas tuas nuvens de beijos
está em mim teu cheiro de noite
Somos eu te tu, noite linda, dançamos sós cada qual cheio de seus fantasmas
E de que me importa que de fato eu não saiba tecer poesias?
E que eu permaneça calado enquanto temo que tua luz se apague
Espero por ti, ainda que em teus braços eu esteja
Minha ansia te ti faz com que me faltes mesmo antes que me deixes
Noite linda, como me doi a tua ausencia quando em mim te escondes em silêncios eternos
Quando te sei escura eterna e nunca minha
como não sou também teu
apenas estamos próximos, apenas você e eu

Sara

Sara
Ela caminhava só
Seus olhos criavam estátuas de sal, e o sal era amargo como o sal do mar
Ela triturava sonhos, ela se apagava, diluindo-se em cores do dia
Seus dedos manchavam escritas nas paredes brancas
Os olhos se fechavam, suas lanças não matavam os dragões
Ela escondia o inferno dentro do seu peito
Ela não olhava seus cacos espalhados pelo chão
As flores pisadas transformadas em brasas sem fogo
Ela me acordava todos os dias com um beijo silencioso
Ela sempre pareceu feliz...

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Eu queria deixar de ser barroco

Eu queria deixar de ser barroco
Eu queria secar o mar de fogo que me escreve em sílabas mudas
Eu queria retorcer-me em labaredas geladas
Não, eu queria cortar a inutilidade da alma
Ser parnasiano e nada mais...mas parnaso parece receita italiana
Deus! diabos! macacos!A quem me salvar possa sem redondilhas imaginárias
eu queria deixar de ser abismo que se perde em abismos
garçon! um bife a parnasiana!Um bife bem passado, sem sangue, sem choro, sem velas
Eu queria ser parnasiano
E ver beleza encaixotada em classicismos
Dizer sim, que é sim e sempre simDizer não, que é sem nunca ser contrário
Eu queria ser um parnasiano
Menos humano, menos vil e mais bucólico
Eu queria nunca mais morrer de tuberculose
Eu queria nunca mais sofrer a ira sombria dos romanticos
Eu queria ser um vampiro neoclássico, perfeita estátua gélida
Perfeita mortalha imaculada.

Paz

Quero paz, descansem seus olhos de mar sereno...
Minha nau já vai ao longe sem despedidas
Quero paz, não sou corsário ou pirata
São iguais nossas histórias de continentes roubados
Quero em paz seguir a diante como a vela que sutilmente se apaga
Como o fogo que trepida depois da destruição de uma incabível verdade
Quero a paz dos esquecidos, das páginas viradas, das águas que calam profundo
Quero assim seguir viagem, sem saquear seus portos, sem mais afrontas
Quero o direito de estar em segurança, num futuro limpido e brilhante
Em terra firme de sol calmo e doce, bem distante de ti, e dos teus...

Errei quando errei?

Errei quando errei?
como é dificil admitir o erro que me faz torta vitrine embaçada
como eu era pequeno e futil
eu era tão imaturo e vil
Eu não soube esperar pelo canto em falsete da sereia
Eu não soube esperar...
eu destilei minha insegurança
eu queimei as ponteseu
fui cruel mesmo não querendo ser
Eu errei
mas se não tivesse errado
Talvez hoje não fosse feliz
Dessa felicidade cruel que vem da vida depois do erro
do novo erro depois do erro
do aprendizado...
do tapa do espelho a face nua
da maquiagem escorrendo
A felicidade nascida do erro
da lagrima do erro
a semente de um amor em tijolos
amizade em construção
Caminho ao teu lado na beira do abismo
você que amo mais que nunca
te vejo claro refletido nas rugas do seu rosto cansado
Me faz perguntar se quando eu errei eu te procurava...

Nossos pecados

Você é inconstante
Você é erro, ato falho, mal necessário
Problema inútil
é o inferno que carrego dentro de mim
Meus labios levam meus anjos para perto de ti
Você, figura dos meus pesadelos cruéis
Me trasnforma em prisão insondável de pensamentos nefastos
Me faz querer fugir até onde não mais eu me siga
Vil contradição, meu nome três vezes por mim negado antes do nascer do dia
Teu nome, preces gravadas em orações de perdão
Longe de mim a culpa pelo teu amor negado!
Longe de mim a dor por ter cegado meus olhos para teus pecados
Longe de mim a ira... eu, teu anjo da guarda traido, seu castigo postulado...
Deus me perdoe por acreditar, que envolto em seus insanos dias
Exista em mim algum amor que possa nos salvar...

PARANÁ

PARANÁ
Saudade... se fosse esse o nome certo...
Das frias manhãs, doces flores, fumaça-café com neblina
Bate o vento frio-triste, em meu rosto ainda limpo, sem lágrimas-rugas...
Estrela da manhã que invisível me tece a alma e cabelos ao vento
Que me abre em flores-olhos-lindos...
Se fosse saudade o nome certo, Paraná distante, verde-vivo-creptando em coração seco
Se fosse saudade em lentas preces aquilo que repete o seu nome...
Se esse sussurrar tão sutil e tão constante me levasse
Se eu corresse, de faces geladas para o tempo sem mais voltar
Se eu adormecesse e sem mais também não acordasse o tempo...
Dentro de ti eu enterraria os meus tesouros juraria amor vão e eterno aos pés férteis do pinheiros ventres de aranhas
Fugiria para longe de mim antes que eu mesma não mais me visse...
Antes que não mais te encontrasse...
no labirinto de rosas-flores-neblina em que me perdi e a ti também...

A FLOR, A ESPADA E A BAILARINA


Na beira do abismo, a bailarina
único passo, mas decididoteria ido, mas exitou...
Tem o abismo, tem a espada, e ela frágil, um coração
Se saltaria, não saberia, se se acabava ou se voaria
A ciêntista, a equilibrista...Para tal segredo e tal minúcia, aquela chave já não teria...
E do veneno letal perfume a única gota que se esvazia
Daquela cor, que irradia, de sua face não se veria
Um sutil matiz tão violento e tão singelo, que nem se pensa que é mortal
Um pequeno passo da bailarina
Saia dai! não... tenha coragem...
não tem mais volta do precipício
É só um passo, mas é para sempre
Vem, diz o vento, eu te seguro!
Mas pobrezinha a bailarina
Que era leoa, dragão de fogo
Agora frágil, tão flor tão triste
tão pequenina, já se implodia em medos muitos
já era tarde, já era frio, já era junho
ela queria, e só queria, o mesmo braço, o mesmo abrigo
de que em perigo, se afugentou...

Calafrio

Cala, sente o silêncio
Sente o horizonte
Pálido encontro de nada com nada
Olha a chuva, fecha a janela
Sente o silêncio, que te esperava
Olha nos olhos, que ele era teu
Guarde as armas, acabou a guerra
cala o frio, não há emoção
Queime essas cartas
mate as rosas
ninguém vai vê-las
Ninguém saberá da tua revolta
feche essa porta, apague essas velas
Apague o recado, destrua as pontes
recolha as cinzas
sufoque as crianças
destrua os vestidos
cala esse frio
cala seu canto
Feche os olhos
esqueça os mortos
recolha os sinos
perdoe os incautos
Devore os abismos
seu tempo acabou...

Verdadeiro:

Verdadeiro: predicativo utópico, mas multiplo, desejado
desgraçados são os que não chegam, porque fazem poesia e se esquecem de onde vão
desgraçados poetas que tecem caminhos de incertos vagalumes em labirintos
Não há esperança que dure para sempre, só a verdade fria e dura espera a todos

Lugar...


Gaveta para guardar lembranças
Lugar de onde nunca se voltou, mesmo que se esteja longe
Canto escuro, embaixo da escadaApartamento vazio: futuro incerto...
Espaços para multidões solitáriasCaixa de fotos, de cartas, embolos com líquidos raros
Abismos...Esconderijo, para chorar.Os fortes precisam de mundos escuros...
Lugar sem tamanho, para os sem destino
Casa, para o sobrevivente de guerra
Abraço é lugar seguro, para os que tem medo, tem frio, tem solidão
Útero da mãe...
Coração... mesmo sem oco, guarda...
Cemitério, palma da mão, boca do estômago
Um lugar para se viver a velhice
Envelope, para encerrar segredos, confissões...
Caixão, para os mortos
Berço...
Trincheira...
Inferno...
Lar, para o mendigo
A terra, para os que a ela pertencem
Onde se deu o primeiro beijo dos amantes...
Presídio...
Reinos distantes dos contos de fadas
Abrigo para o fugitivo
Procuro-me, não me encontro
Escondo-me onde não há nome
Estou em todos os lugares
Habito o inalcançável...

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MARCINHA: