terça-feira, 3 de agosto de 2010

Limpeza


Ainda a mesma alma

Habita agora esse corpo, não sei totalmente por que

Isenta, na verdade. Antiga, por demais adulta

Quem sou eu depois de despir toda a carne da emoção inútil?

Quem sou eu, além do ruido em que tenho me escondido?

Quem sou eu depois de limpar todo o traço em falso?

Toda a poeira do tempo lavada, toda a dívida paga e perdoada
Sem odor
Sem sabores
Sem desculpas
Sem mentiras
Mergulhada na impermantentibilidade

E agora?

Agora é sério.

Quem está pronto para se lembrar de tudo e assim esquecer?

Quem está pronto para ver além do que está diante dos olhos?

Quem está pronto para ver e sentir com todos os sentidos simultaneamente?

Como seria essa imagem?

Quem tem o controle absoluto para passar por aquela barreira de gritos invisíveis sem sentir medo?

Eu não.

Estou diante da porta

Só existimos agora, eu, toda essa imensidão branca e limpa e essa porta

Estou aqui em silêncio

Só eu posso abrir a porta

Só eu posso atravessá-la

Só eu verei o que vai além dela

E depois disso, tudo muda

Eu tenho medo. O tempo passa.

Um comentário:

  1. Este seu poema me fez lembrar um antigo escrito de Hermes Trismegisto,"o três vezes grande" que diz:
    Convence-te em primeiro lugar de que a morte física não é nada além do abandono do corpo físico pela alma. E reflete, em seguida, sobre o fato de que um homem sábio e prudente em seu próprio país permanece sábio e prudente em outros países. Ele jamais perderá sua sabedoria, seja qual for o país que percorrer.

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