sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Santa Irene


Não quero mais o corpo crivado

Nesse rio que leva, leva seus sonhos insanos

Te salvo antes que me perca

Desisto do gosto da morte tua

Em meus braços, te carrego para superfícies seguras

São Sebastião, guerreiro ferido, morto e vivo

Tuas flechas são minhas, meu veneno é teu

Mas te salvo, antes que tenha que te carregar para sempre

Nos dias sombrios onde eu for só a tua escuridão.

São Sebastião Bufão


E se eu tivesse atravessado aquela porta

Será que eu estaria assim?

Bufão, um São Sebastião assim atrapalhado

Que nada mais eu sou além de mil pedaços

De um lado ladrilha, brilha a lágrima cintila

Do outro maqueia o sorriso, cansado, arrependido

De ser Sebastião, um santo dolorido

De ser esse Bufão, na cor da corda bamba

Do riso escarnecido do publico pagante

Retira a flor e o fel de um lencinho brilhate

E sua apoteose até parece samba

Recolhe a sua dor passando seu chapéu

Lá vai Sebastião, palhaço arrependido

De ter se tornado mambembe vagabundo, desvalido
a buscar felicidade em brilhos de estrelas tontas

Que cantam em sua glória um dia ter existido



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sensatez


Não vou me refugiar em você

Seja tua face uma ilusão, ou qualquer realidade distante

Ou seja uma cura temporária para qualquer vaidade ferida, ou mais...

Seja doce ou acre, não experimentarei tua presença


Não quero alcool, ópio, anestesias, que facilmente me darias somente com palavras

Poderia simplesmente declarar-me derrotada

Não vou negar a minha força, mesmo que agora não a encontre

Sou um cemitério, sou ventre fértil habilmente inutilizado


Não vou me refugiar em você

não vou te buscar quando mais nada eu tiver

não vou lamentar a guerra que secou meu solo

Vou negar meu próprio nome, até que me abençoe a mim mesma completa



Só erguerei meus olhos para fitar os teus

Quando em mim tudo for abundância

Entãoserá você quem virá me buscar, para completar o que já está completo

E ainda neste momento, não vou me refugiar em você. Serei minha então.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sem palavras


Não sei tirar de mim qualquer palavra que me resgate deste nevoeiro de silêncio...

minha paz e minha guerra tem o mesmo nome

vivo pela insígnia desconhecida que carrego no peito

Minhas mãos de vida e morte desconhecem meus mistérios...