terça-feira, 31 de agosto de 2010

Toda
beleza
é
uma
despedida...









Amém








Espaço vazio
Que sente ausente
Cada conta que conta... conta... conta...
Cada gota que cai
Cada gesto em silêncio
é uma oração
para reter tempo.



sábado, 28 de agosto de 2010

Hortelã


Das folhas na água quente

Sobe lento vapor

Gelado quando se sente vindo de muito perto

faz respirar a mais inocente euforia-calma


Cheiro de hortelã, vivo ou artificial

Os olhos dela brilham só de distância

xicara de chá perfuma de fumaça o beiral da janela

Lá fora nas montanhas distantes passam os carros

pontos de luz se despedindo anônimos


Missão cumprida, na calma dos puros

Corações sólidos, completos e únicos

Chuva cinza escuro em qualquer tarde da infância

Se deixa entrever um pedaço de céu azul: algodão doce


Toque da mão que conforta

O pior já passado, sono tranquilo no ombro amado

Cheiro de hortelã, anis estrelado, batendo asas no vazio do estômago

Borboleta azul se reflete na infima gotad'água, bela, mesmo assim se entristece...














quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Anis estrelado


Erva doce, céu azul, banho fresco

cada tijolo, lado a lado, reconstruindo

cada momento de sim ou não jogado fora

Era uma vez, ainda...


Quero as flores mais brancas

Semente a semente, já sem pressa florindo

Dia novo, sol claro, sem memória

Sem amor, sem esperas, nova...


Menina, olhos brilhantes, ainda não viu

primeira beleza do céu de fogo

por do sol, mancha aquarela, lágrimas de tinta rosa

Sem pecados, sem perdão, folha branca desenha distraida


Sorvete de livro desejado, joaninha que voa

Esperanças, caixinha de música, meu perfume predileto

de gota em gota abelhas fazem muito mel
Colo de mãe depois de um tombo, desejo atendido, noticia boa


Assopra o dente de Leão: Tua felicidade já chegou...


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mar


Me leve para longe o mar

já que me trancou eterna em silêncios

Eu nunca vou chegar


Me leve para longe o mar

O farol solitário é distante demais

O pulsar das estrelas fecha meus olhos

O brilho e o gosto do sal entorpecem


Me leve para longe o mar

Grãos de areia entre os meus dedos que fogem...

A areia fica, sou eu que me desfaço na tempestade


Estou acordado ou estou sonhando?

Para onde quer que eu fuja, estará lá aquilo de que fujo

De onde quer que eu venha, a busca é sempre a mesma

Onde quer que eu esteja, estou a deriva



Me leve para longe o mar

mesmo que me perca em vários labirintos em simultaneidade

Não ouça o meu estribilho sufocado, no oco desse espaço cheio e vazio

Me leve para onde inexista o nome de todas as coisas



Possessão


Tem horas do dia em que você assopra o silêncio no meu ouvido

Tudo para.

Eu fico a ouvir suas mensagens

veladas, imaginárias, tão surreais quanto o tal amor que nunca existiu

Fico pensando em como seria se tivessemos sido

se fosse cedo para decidir, se fosse tarde para desistir

Se fosse ainda aquele dia

Se o vento na asa da borboleta tivesse mudado sua rota em milímetros invisíveis

Se não fosse só a sua vaidade tudo o que se mentia

Tem horas do dia em que tudo para.

e é como se ainda fosse possível

Calar o que o pensamento não cala

viver o que se desfez no impossível...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Falsos poetas

Não leia os falsos poetas
Leia Pessoa
Queime as mentiras dos falsos poetas
Derrube suas bibliotecas
Falsos poetas não sabem rimar
pensam ter o direito de dizer a todos
pensar ter o direito revelar o que ele mesmo escondeu
Longe do trono dos semi deuses
Ele teceu seu mar
Ele despiu o céu
E encontrou o desasossego
Não leia os falsos poetas
Leia Fernando Pessoa...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Declaração de amor ao Homem-flor


Um dia eu conheci um homem-flor

Ele era o dono do mundo, só que não contava para ninguém

Ele era o único homem sem ego hipertrofiado, uma singularidade...
Dentre tantos super-heróis, só o Homem-flor foi quem me salvou...

Eu reconhecia o Homem-flor e ele mim também

Mas era amor calado, daqueles que não se chama de amor, e sim de admiração e respeito

O meu amor com o homem flor era igual aquele que a gente vive quando olha no espelho

Um dia, o homem-flor tomou uma tesoura em suas mãos

e recortou numa folha de papel o infinito

só para me explicar como eu poderia fazer um infinito, e o que era o infinito...

Homem-flor, guardo até hoje o infinito que você me deu

O homem-flor, é o meu único amor verdadeiro

Eternamente não declarado
Homem-flor, você me ensinou a ser quem sou

Você me ensinou a ser como você.

domingo, 15 de agosto de 2010

Até quando...

Eu quero paz
não! eu quero voltar para o teu abraço
Até quando vou vender a minha paz
Até quando vou pedir tão pouco?
Até quando você será a minha paz?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A fera




Meu coração é a lágrima de uma estrela distante


tem olhos tristes que parecem brilhar ao longe


Existem palavras que pertencem ao nunca


A febre é o estado em que as estrelas mais cintilam e os sentidos mais enganam


Então se confundem com as luzes do mundo


As vezes ando só, carrego pincéis de pálido horizonte azul


Carrego o mar arrebentando em pedras dentro do peito, nunca cessa


O sal entre a ponta do dedo e o paladar


Detesto a minha falta de silêncio quando estou mudo


No fundo, por mais cruél que eu mesmo me descreva


Sou frágil, doce, triste e preciso de abrigo...








domingo, 8 de agosto de 2010

A rosa no espelho


Deus, da forma que existires, e com o nome que quiseres ser agora chamado. Peço que, antes que seja eu teu, sobretudo, seja eu mesmo o dono de mim.


Que eu saiba ouvir a minha própria voz, mesmo quando sem respostas eu busque qualquer uma das mil vozes que me cercam ou até mesmo a tua, que eu saiba ouvir a minha voz, e que eu saiba usá-la para pedir socorro, mas apenas quando eu mesmo não puder mais lutar. Deus, me dê o orgulho necessário, para saber da minha força e não te pedir nada.


Que eu não me perdoe, não me ofereça treguas, que eu me diga não toda a vez que me ordenar a ética, e essa sim, serei sempre servil.


Deus, recebe o meu amor por ti como o de um outro Deus, que ainda está nascendo. Reconheça que ainda assim somos espelho um do outro.


Deus, me ensina o que fazes para ter a força de não quebrar a fina camada de vidro que recobre o livre arbitrio de outros Deuses tão pequenos como eu, tão sementes... eu as vezes os odeio, como faço quando me olho no espelho... Por favor Deus, me ensine que odiar outro como eu e odiar a mim mesmo, portanto, o faço a ti.

Deus, eu te amo!


Me ensina que eu tenho que caminhar sem olhar para trás, e que mesmo que eu precise, saberei viver sem que alguma mão esteja dada a minha ao longo do caminho.Me ensina a jogar fora tudo aquilo que é necessário para que meu coração esteja batendo.Deus, não me obedeça!


Deus, cura essa doença que me torna tão frágil, que me deixa como como um cão raivoso, que leva toda a minha sensatez, que me faz colher poesias cruéis e chamados impróprios

Deus, me cura logo dessa humanidade, para que eu possa ser como tu:

Limpo. Imutável. Desumano.

Deus, eu pequei.




terça-feira, 3 de agosto de 2010

Limpeza


Ainda a mesma alma

Habita agora esse corpo, não sei totalmente por que

Isenta, na verdade. Antiga, por demais adulta

Quem sou eu depois de despir toda a carne da emoção inútil?

Quem sou eu, além do ruido em que tenho me escondido?

Quem sou eu depois de limpar todo o traço em falso?

Toda a poeira do tempo lavada, toda a dívida paga e perdoada
Sem odor
Sem sabores
Sem desculpas
Sem mentiras
Mergulhada na impermantentibilidade

E agora?

Agora é sério.

Quem está pronto para se lembrar de tudo e assim esquecer?

Quem está pronto para ver além do que está diante dos olhos?

Quem está pronto para ver e sentir com todos os sentidos simultaneamente?

Como seria essa imagem?

Quem tem o controle absoluto para passar por aquela barreira de gritos invisíveis sem sentir medo?

Eu não.

Estou diante da porta

Só existimos agora, eu, toda essa imensidão branca e limpa e essa porta

Estou aqui em silêncio

Só eu posso abrir a porta

Só eu posso atravessá-la

Só eu verei o que vai além dela

E depois disso, tudo muda

Eu tenho medo. O tempo passa.