
Perdida manhã sem passado
Sou nada mais, conceitos, verbos, sou códigos
Nem o silêncio, nem o nada, na arena um ósculo cego
pois o corpo não é habitado por paz ou delírio
A alma labirinto. Não me encontro: sou-me em deserto
Nem cruel, pois sem gosto amargo, inefável, pois sem sangue, pulso
Nem dia ou noite, pois só o que é vivo contradiz
Palavra, nome daquele que morreu, leva o que apago
Palavra, digo que sou, mas não estou aqui, verso-retroverso
Palavra, etério, emerito, perfeito, verbo
Nem o profundo disfarce por trás da máscara
Nem a verdade da cara velha, pálida mácula
Nem anjo ou demônio: só.
Rumo sem estrada, estúpida razão
No escuro do mundo, clarão da estrela de ontem: Tempo
Algo que é concreto e sente o absurdo das coisas: Pétala
Esse que não tem nome, é luz pois vive múltiplo e dentro: Tempestade
Pulsa, palavras mudas, empilhados muros de medo e pó: Silêncio
Esse que não tem nome, derrota-me ainda que forte
pulsa-me mistérios e rios, corpo que é e que sou
No escuro clarão do mundo, estrela de ontem: Tempo
Vive o que é vazio e me vive dentro: Pétala
Pulsa o que é belo, sonhado, me tece em teia de véu e silêncio: Tempestade
Noite, nasce-me tranquila de ti, sem ser sonhada, envolta em pedras e muros de silêncio e pó:Morte.